domingo, 12 de fevereiro de 2017

O poder e o dever (The may and the must).

O poder e o dever.



Sejamos honestos, a grande maioria dos
praticantes de artes marciais chegam às suas respectivas práticas atrás de poder, pela razão que seja, medo, raiva, ressentimento de alguma experiência ruim do passado. Os filmes e lutas esportivas poluem o imaginário popular da expressão agressiva da prática marcial. Portanto, quando cheguei na Moy Yat Ving Tsun e conheci meu Si Fu, mestre Júlio Camacho, fiquei encantado com as raras demonstrações das suas impressionantes habilidades, indubitavelmente querendo aquilo pra mim. Minha viagem marcial começou quando comecei a descobrir justamente o porquê de serem tão raras tais exibições.
Mestre Senior Julio Camacho em raro momento de demonstração dos seus refinados conhecimentos marciais. 

Assim que iniciei a prática do kung fu, na mesma proporção que me surpreendia com as habilidades dos meus tutores, me frustrava com o inusitado método de transmissão que me era apresentado. Era incompreensível que toda aquela movimentação precisa e eficaz era fruto de um treinamento tão conceitual. As longas conversas sobre a estrutura de cada movimento, nas quais minhas respostas nunca eram diretamente respondidas, geravam um grande vazio na minha frente. Mal eu sabia o quanto cada passo na direção dele me fazia despencar numa outra dimensão do meu próprio eu: o caminho para a Vida Kung Fu.

Ao ser convidado para ingressar formalmente na família Jo Lei Ou, o estreitamento da minha relação com meu Si Fu, sem que eu percebesse no início, me proveu a ambiência adequada para que meu ímpeto parasse de me atrapalhar. Com o tempo, a minha confiança cega de que em algum momento me seriam confidenciados os segredos do Ving Tsun foi sendo substituída pela percepção que a construção do meu kung fu dependia diretamente da desconstrução das minhas ilusões a respeito da arte. Vocês já devem estar cansados de ler e ouvir o provérbio quase cliché sobre não se encher uma xícara de chá cheia, mas de fato é isso. 
Nessa ótica, adotei como um dos meus provérbios marciais familiares preferido o Kuen Kuit

應打則打
不應打不可打
毋強打
勿亂打

Tradução:

Se deve golpear, então golpeie;
Se não deve golpear, não golpeie.
Forçadamente, não golpeie.
Desordenadamente, não golpeie.







Hoje, entendo que tudo que aprendi na minha jornada kung fu traz consigo uma grande responsabilidade, e me sinto cada vez mais no dever de honrar esse legado que me chegou através dos meus antepassados que preservaram e transmitiram o Ving Tsun até o momento presente. Faço parte de algo muito além do meu antigo desejo de simplesmente ser bom em desferir golpes, e deixei muito lá atrás aquela vontade imatura e agressiva de ser à todo custo um bom lutador. Carrego comigo uma sabedoria que se incorporou ao meu jeito de ser, me ajudando a organizar minhas ações do cotidiano de forma a, acima de tudo, me alinhar com meus compromissos como ser humano. Paradoxalmente tudo isso tem me proporcionado um crescente desenvolvimento marcial, que provavelmente surpreende muitos que iniciam essa jornada kung fu na nossa família, não mais porque eu quero, mas por ser meu dever preservar e transmitir nossa arte.

Núcleo Barra no Ceo Offices - myvt.nucleobarra@gmail.com - 21 98809-8862

------------ 

The may and the must


Let’s be honest, the great majority of martial artist get into their practices seeking for power for whatever reason, fear, anger, resentment of a bad past experience. The movies and sportive fights pollute the social imaginary with an aggressive expression of the martial practice. Therefore when I came to the Moy Yat Ving Tsun and I met my Si Fu, master Júlio Camacho, I was delighted by the rare demonstrations of his impressive abilities, undoubtedly wanting these for me. My martial journey started when I started to discover precisely why those exhibitions were so rare.

As soon as I started the kung fu practice, as much as I got surprised by the ability of my tutors I got frustrated with the unusual transmission method that was presented to me. For me it was incomprehensible that all those precise and efficient movimentation were the fruit of such a conceptual training. The long talks about the structure of each move, in which my questions were never directly answered, created a great void in front of me. I barely knew that each step towards it made me fall into another dimension of my own self: the way to the Kung Fu life.

When I was invited to formally join the Jo Lei Ou family, without noticing at first the approximation of my relation with my Si Fu provided me the proper environment for my impetus to stop puzzling me. With time, my blind trust that the secrets of the Ving Tsun would be given to me at some point was replaced by the realization that the construction of my kung fu depended directly on the deconstruction of my illusions about this art. You probably are tired of reading and hearing the almost cliché saying about not fully filling a teacup, but in fact that’s about it.

In this perspective, I adopted as one of my favorite martial proverbs the Kuen Kuit:

應打則打
不應打不可打
毋強打
勿亂打

Tranlastion: 

Do hit, if you should hit;
Do not hit, if you should not hit.
Do not hit forcefully.
Do not hit randomly.


Today I understand that everything I learned on my kung fu journey comes with a great responsibility, and I feel the growing duty to honor this legacy that came to me through my ancestors who preserved and transmitted the Ving Tsun until the present moment. I am part of something far beyond my old desire to simply be good at throwing punches, and I left behind that immature and aggressive desire to be a good fighter at all costs. I carry with me a wisdom that has been

incorporated into my being, helping me to organize my everyday actions and above all to align myself with my commitments as a human being. Paradoxically all this has given me a growing martial development, which probably surprises many of those who start this kung fu journey in our family, no longer because I want to, but because it is my duty to preserve and transmit our art.⁠⁠⁠⁠



Nenhum comentário:

Postar um comentário